quinta-feira, 30 de maio de 2013

Marin, a Champions Legue e a abertura do Campeonato Brasileiro: uma reflexão sobre o nosso campeonato nacional.


O Campeonato Brasileiro das séries A e B começaram nesse último final de semana. Mais uma vez, a principal competição do futebol nacional começou as pressas, sem muita divulgação, imediatamente após os monótonos, arrastados e cansativos campeonatos estaduais. Como produto, o nosso campeonato tem um potencial enorme, mas é muto mal tratado. Não se trabalha na sua promoção, a desorganização impera. Mas quem são os responsáveis? De quem é culpa?
Sem dúvida, a maior culpada é a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), afinal, a organização da competição cabe a essa entidade. Mas nossa confederação não está preocupada com o campeonato nacional. O que realmente lhe interessa é a sua seleção, que rende valiosos rendimentos a instituição. Prova disso, é que José Maria Marin (Zé das Medalhas), presidente da CBF, nem se deu ao trabalho de abrir a competição. Estava na Inglaterra, em Londres, junto com outros dirigentes, assistindo a final da Champions Legue, que aconteceu exatamente no mesmo dia em que teve início o Brasileirão. Incrível, não?

O Brasileirão, a Champions Legue e os nossos dirigentes na Europa.
Se ao menos tivéssemos certeza de que esses dirigentes estavam lá se reciclando, interessando-se em aprender como organizar nosso campeonato, empenhados em cuidar melhor do nosso futebol. Afinal, a Champions não deixa de ser um modelo, um produto bem trado, por isso vendido no mundo todo. Mas, infelizmente, não se trata disso, a viagem dos nossos cartolas não tem relação nenhuma com o nosso campeonato nacional. Serviu para passear, fazer política, mero pretexto para assistir ao evento!
O fato é que Campeonato Brasileiro não podia ter começado no mesmo dia da final da Champions Legue, que foi o que de mais importante aconteceu no mundo do futebol no último final de semana. Foi uma concorrência desleal. Será que ninguém pensou nisso? Mas já que começou, o presidente, símbolo maior da entidade responsável pela competição, não podia está em Londres, assistindo a final de uma outra competição. Tinha que está aqui, promovendo e privilegiando nosso campeonato, afinal, a entidade que ele preside é responsável pela realização da competição.
O início do Brasileirão tinha quer ser uma grande festa, deveria ser um evento marcante, que significasse verdadeiramente a abertura do nosso calendário, um acontecimento que despertasse o interesse de todo o mundo. Dinheiro tem! A economia brasileira nunca esteve tão forte, nunca circulou tanto dinheiro no futebol nacional. Então, por que o nosso Brasileirão não decola? Por que não se transforma em um dos maiores campeonatos do mundo, despertando o interesse de europeus, asiáticos, norte-americanos, sul-americanos? Por que não conseguimos segurar os nossos craques, bem como trazer muitos bons jogadores de todo o mundo para jogar nosso campeonato?
Até agora, tudo isso não foi possível porque nosso futebol está entregue a dirigentes incompetentes. Cartolas e burocratas que pensam apenas em seus próprios interesses, que usam deliberadamente o esporte como meio de enriquecimento ilícito. Gente que não é profissional, que não pensa o futebol como um negócio rentável, capaz de gerar recursos para os clubes, movimentando também diversos setores da economia nacional. Mas os clubes, sempre subservientes aos dirigentes e as federações, tem uma parcela enorme de culpa e responsabilidade nisso tudo.

A criação de uma liga e o fortalecimento do futebol nacional.
Em todos os principais países do mundo, são os clubes que organizam os campeonatos nacionais, não as confederações ou federações. Há décadas, todos eles se organizaram em ligas, fortaleceram seus campeonatos, trabalharam suas marcas, transformando-as em produtos globais. Mas os presidentes e dirigentes dos clubes brasileiros são tão incompetentes quanto a cartolagem da confederação e federações. A grande maioria também pensa apenas em interesses próprios, são incapazes de se unir em prol de uma causa maior, que possibilite o crescimento dos clubes e do nosso futebol.
O fortalecimento do Brasileirão é possível, mas para que isso ocorra os clubes precisam se unir para formar uma liga, que deve ser responsável por organizar a competição nacional. Essa liga não pode ser igual ao antigo "Clubes dos Treze", que privilegiava apenas os interesses dos grandes clubes. Os resultados de dentro de campo devem ser respeitados, por isso os responsáveis por essa liga não podem patrocinar viradas de mesa. A moralidade tem que ser um principio que deve ser seguido a ferro e fogo. Nas datas FIFA, quando tivemos jogos da seleção, o campeonato tem que parar, como acontece em todo o mundo.
A competição não pode ser constantemente esvaziada, com seus craques ausentes, prejudicando os clubes e o próprio campeonato, porque estão servindo a seleção. Os jogos das competições nacionais não podem ser constantemente desmarcados e remarcados para outras datas, os estádios não podem está quase  sempre vazios, os gramados não podem ser verdadeiros pastos. O calendário precisa ser organizado e respeitado. Os campeonatos estaduais não podem durar quase 5 meses, o interesse maior deve ser nas competições nacionais. Isso não significaria a morte dos estaduais, nem tampouco o fim ou enfraquecimento dos times pequenos. É preciso que a grande maioria dos clubes tenham um calendário para ser manter ativo durante todo o ano.

Os clubes, os torcedores e a transformação do futebol brasileiro.
É possível fazer isso. É possível aumentar e estender as competições nacionais. Países menores do que o nosso mantém 6, 8, 10 séries de campeonatos nacionais. E não me venham com essa conversa de que não é vantajoso, de que a despesa é alta, de que não tem dinheiro. As confederação e federações tem o dever de financiar essas competições. Recebem muito dinheiro e incentivos para isso. Além do mais, se houver interesse, criatividade, profissionalismo e organização, esses campeonatos tornam-se não apenas possível, mas também viável.
As mudanças são muitas, porque os problemas do nosso futebol são estruturais, envolvem mecanismos complexos de poder. Exatamente por isso, não podemos esperar que elas partam da CBF ou das federações estaduais, que comodamente ocupam um locus de poder que garante status e muitos recursos financeiros.
Somente os clubes, com seus torcedores, profissionais competentes e qualificados, dirigentes empenhados e unidos, podem promover essas transformações. Isso é possível! É realmente possível fazer isso, sem necessariamente elitizar o futebol brasileiro. O modelo alemão é uma prova real dessa possibilidade. Esperamos e torcemos por essas mudanças. Sem elas, nossos novos estádios não representarão nada. Somente com essas transformações, que representarão uma revolução, poderão levar o futebol brasileiro a um verdadeiro fortalecimento.

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