segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os amistosos da seleção, a Copa das Confederações e o uso político do nosso futebol

Não é de hoje que o futebol, esporte de massa no Brasil e no mundo, é utilizado politicamente para atender diferentes interesses e justificar as mais diversas ideologias. Em 1934, por exemplo, Mussolini utilizou deliberadamente a Copa do Mundo, realizada na Itália, como instrumento de propaganda do regime fascista. Na época, inclusive, a seleção italiana chegou a jogar com um uniforme de cor preta, numa clara alusão aos famosos camisas negras, temida organização militar fascista. Os militares argentinos, em 1978, também se aproveitaram da popularidade do esporte entre os hermanos. Usaram o futebol para melhorar a auto-imagem de uma ditadura desgastada, marcada pela prática da tortura e pelas mais diversas violações contra os direitos humanos. Da mesma forma, na Copa de 1950, no Brasil, o futebol e a seleção foram utilizados pelas mais diversas autoridades. Na véspera da decisão contra o selecionado uruguaio, com um clima de já ganhou intenso devido a boa campanha da seleção brasileira, não faltaram políticos e candidatos a cargos públicos dispostos a aparecer ao lado dos jogadores em fotos e matérias de jornais.

Copa do Mundo de 1934 - ao som do hino nacional, 
seleção italiana faz saudação fascista ao "duce" Mussolini.

Brasil e Inglaterra, ou, futebol e política na cidade maravilhosa.


FHC, Aécio Neves, Marin e Marco Polo Del Nero: 
futebol, troca de apoio e alianças políticas.

Hoje em dia não é diferente. Os dois últimos amistosos da seleção brasileira, e mesmo sua preparação para a Copa das Confederações, mostram bem como o futebol continua sendo descaradamente utilizado como instrumento político e ideológico no nosso país. Domingo passado, no amistoso contra a Inglaterra, Marin (vulgo Zé das Medalhas) e Maco Polo Del Nero (fiel escudeiro, vice de Marin, presidente da Federação Paulista e candidato à presidência da CBF), foram fotografados ao lado de várias autoridades. Na Tribuna de Honra do (ex)Maracanã, os cartolas receberam gente graúda, tais como Sérgio Cabral e Eduardo Paes (governador e prefeito do Rio de Janeiro), Agnello Queiroz (governador do Distrito Federal), o ex- presidente FHC, o senador Aécio Neves e, pasmem, até mesmo o ministro do STF Joaquim Barbosa.

Marin, Del Nero e Eduardo Paes: a Copa é deles, 
a conta é nossa.

Marin busca apoio político. Recentemente, foi convidado a prestar esclarecimentos na Comissão da Verdade, em virtude do desaparecimento e morte do jornalista Vladimir Herzog. Seu trânsito junto a presidência e ao governo federal já foi melhor. Sua imagem está tão desgastada quanto a da entidade que preside. Pousar ao lado dessas figuras é uma maneira de mostrar força, uma nítida tentativa de buscar aliados. Já para muitos dos políticos e autoridades fotografadas, não deixa de ser uma ótima oportunidade de aparecer. Estamos em ano pré-eleitoral, muitas candidaturas estão sendo lançadas, a Copa do Mundo está cada vez mais próxima, muitas obras sendo concluídas. Ai já viu, né? Todo mundo quer tirar sua casquinha! Ainda mais político. E a seleção, o futebol... Isso é segundo plano. O importante é fazer política ou politicagem.

Zé das Medalhas e Joaquim Barbosa num domingo 
de (ex)Maraca.

Enquanto isso... na passagem por Goiânia.
O próximo compromisso da seleção seria em Porto Alegre, mas antes de viajar ao sul do Brasil, uma longa escala em Goiânia para treinar e se preparar para o amistoso contra a França. Para que serviu essa passagem pelo Centro-Oeste? Não seria mais lógico, em termos de preparação e logística,  ir direto do Rio para Porto Alegre? Seria... mas o uso político da seleção é mais importante do que qualquer outra coisa.  A capital goiana não foi escolhido como uma das sedes da Copa. Além disso, é preciso agradar o governador tucano Marconi Perillo, que injetou, inclusive, dinheiro público na reforma do CT da equipe do Goiás, utilizado para receber a seleção.
Faz parte do jogo político, afinal, futebol é um detalhe, o mais importante são as barganhas e as alianças políticas. A passagem da seleção por Goiânia foi estratégica tanto para Marin quanto para Perillo. O presidente da CBF busca apoio junto a base tucana. Suas relações não são das melhores com Dilma, que não faz nenhuma questão de aparecer junto ao cartola. Por outro lado, para o governador goiano, receber a seleção é uma ótima oportunidade de fazer propaganda política. O povão gosta de futebol, a seleção ainda desfruta de apelo popular, por isso é importante aparecer ao lados jogadores.

Churrasco, discursos e outras coisinhas a mais em Porto Alegre.
Em Porto Alegre, o uso político do esporte bretão continuou na ordem do dia. O governador do Rio Grande do Sul, o petista Tarso Genro, recebeu Zé das Medalhas com um suculento churrasco à moda gaúcha. Além de saborear as delícias da terra, Marin discursou para políticos, presidentes de clubes e presidentes de federações. Mais tarde, no estádio, o cartola assistiu a partida no camarote da CBF acompanhado de uma grande quantidade de dirigentes e políticos-futebolistas. Além do anfitrião Tarso Genro, estavam também no setor vip o deputado Marco Maia, o senador Pedro Simon, o deputado e cartola Paulo Odone, o secretário de esportes Kalil Sehb, o presidente da federação gaúcha Francisco Novelletto, além de muitos outros políticos, dirigentes e puxa sacos de plantão.

No camarote da CBF...


Política nos pampas: Marin e Tarso Genro no camarote 
da CBF no novo estádio do Grêmio.

Até a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, estava no camarote, mesmo depois de ter defendido, recentemente, uma investigação sobre a suposta participação de Marin, então deputado em 1975, na morte do jornalista V. Herzog. Questionada, a ministra negou qualquer contradição ou desconforto por está no ambiente. Então tá! É normal a ministra dos Direitos Humanos sentar-se ao lado de um ex-deputado que defendeu, em discursos pronunciados na câmara de São Paulo, torturadores como Sérgio Fleury? Quer dizer, que a ministra não se sentiu desconfortável em dividir o espaço com quem foi denunciado por envolvimento na morte de V. Herzog? Ela não se sente constrangida por está ao lado de quem apoiou publicamente a ditadura? Isso é uma vergonha, um escárnio, um verdadeiro escândalo! Se isso aqui fosse um país sério, hoje deveria ser um dia de explicações por parte do poder público. Seria caso de demissão, de desligamento da pasta de ministra dos Direitos Humanos. Mas, ao invés disso, as maiores atenções recaem sobre os gols do Brasil e da rodada.

Brasil e França: uma verdadeira festa. Imagina na Copa?
No camarote, predominou um clima de festa e fartura. Na entrada, os convivas foram recebidos por belas moçoilas. Uma seleção de loiras, morenas, negras, mulatas, convocadas para agradar e atender os políticos, as autoridades e os demais convidados. No cardápio, comida chique, coisa top: caramelis bicolores (nas cores verde-amarelo) com recheio e molho suave de queijos com lascas de amêndoas, rosbife de parma com pães, caldinho de feijão, macarons (homenagem a França), mini sorvete de pistache e refrigerante, água e cerveja sem álcool para beber. Até o Ronaldo, agora também comentarista da tv plim-plim, apareceu lá para dá um olá aos convidados vips. A farra deve ter sido mesmo boa! Imagina na Copa?

Nenhum comentário:

Postar um comentário