Sérgio Meira (Secretário de Esporte do Município), Luciano Cartaxo
(Prefeito de João Pessoa) e Nelson Lira (Presidente do Botafogo-PB).
Na semana passada, a Prefeitura Municipal de João Pessoa anunciou que distribuirá R$ 800 mil para o Botafogo-PB. O incentivo financeiro será em troca do patrocínio máster na camiseta do clube. O pagamento será feito em quatro parcelas de R$ 200 mil. De acordo com o prefeito, o dinheiro servirá para ajudar o clube a pagar suas despesas na Série D do Campeonato Brasileiro.
Esse não foi o primeiro incentivo que a prefeitura distribuiu aos times pessoenses. No início do ano, Luciano Cartaxo já havia disponibilizado um montante de R$ 820 mil, que foram divididos entre os clubes pessoenses que disputaram a elite do Campeonato Paraibano. O Botafogo-PB recebeu R$ 400 mil, o Auto Esporte R$ 240 mil e o CSP R$ 180 mil, o que dá um total de R$ 1.620.000 (um milhão, seiscentos e vinte mil reais) de dinheiro público.
Em 2014, o prefeito pretende distribuir ainda mais dinheiro para os clubes
O prefeito disse ainda, que esse acordo deve ser renovado em 2014. Para o próximo ano, sua intensão é dobrar o valores que foram distribuídos aos clubes durante o estadual dessa temporada. Caso isso ocorra, o Botafogo-PB receberá R$ 800 mil, o Auto Esporte R$ 480 mil e o CSP R$ 360 mil, totalizando R$ 1.640.000 (um milhão, seiscentos e quarenta mil reais). Esses incentivos seriam distribuídos apenas no primeiro semestre, quando será realizado o campeonato estadual.
Mais esses valores ainda podem aumentar. Caso o Flamengo-PB, que disputará a 2° divisão do estadual, consiga voltar a elite do futebol paraibano, também receberá esse incentivo financeiro. Luciano Cartaxo deixou claro que pretende ajudar todos os clubes pessoenses que estiverem na 1° divisão. Além disso, se algum time da capital chegar a disputar qualquer uma das séries do Campeonato Brasileiro, a quantia de dinheiro público poderá atingir somas ainda maiores.
O prefeito justificou a aplicação desses recursos, antecipando-se a eventuais criticas: "Não estamos investindo numa entidade privada simplesmente. Estamos investindo em uma paixão. Num sentimento. Estamos investindo num projeto para toda a cidade". Será que é isso mesmo? Será que isso não deve ser questionado? Quer dizer que tá tudo bem né prefeito? Aplicar recursos públicos em entidades privadas é normal?
Dinheiro público deve atender aos interesses coletivos, não a interesses privados
Prefeito, faça-me o favor, poupe-nos desse discurso rasteiro e leviano. Não é papel da prefeitura investir em clubes ou qualquer outra entidade privada. Dinheiro público tem que ser aplicado em ações ou projetos de interesse público. Com isso, não quero dizer que o município não possa ou não deva investir no esporte ou lazer. A aplicação de recursos nessa área é fundamental, não discordo da sua importância e legitimidade. A forma de destinação das verbas, bem como a justificativa para essa ação é que merecem as mais severas criticas e oposições.
Prefeito, por que não investir esse dinheiro na estruturação, em reformas ou construção de praças de esportes? Por que não utilizá-lo na construção de ciclovias? Na compra de material esportivo para as escolas do município? Em projetos que objetivem formar atletas e cidadãos, sobretudo, nas regiões periféricas da cidade?
Sem dúvida, o crescimento dos clubes profissionais seria algo importante para João Pessoa. Daria mais visibilidade a nossa cidade, movimentaria a economia local (provavelmente gerando recursos e renda) e melhoria até a autoestima dos habitantes, que talvez passassem a torcer e acompanhar os clubes pessoenses, em detrimento dos de outras cidades.
Sou apaixonado por futebol, torcedor fanático do Auto Esporte, por isso gostaria que isso acontecesse, queria muito que meu clube do coração se tornasse mais forte, mas não com dinheiro público sendo investido em entidades privadas. Se o município quer aplicar recursos no esporte, se quer contribuir para o crescimento dos clubes profissionais e do futebol na nossa cidade, aplique esse dinheiro na infraestrutura de setores relacionados a essa prática esportiva. Prefeito, dinheiro público tem que servir ao interesse coletivo, não atender interesses privados!
Por que a confederação e as federações não investem no futebol?
A primeira vista, cabe aos gestores dos clubes gerar os recursos necessários a manutenção dessas entidades privadas. Mas será que cabe apenas aos clubes? Isso se aplica em todos os casos? Até mesmo para a nossa realidade, de um futebol bem pouco desenvolvido? Acredito que não, pois acho que a confederação e as federações deveriam assumir esse papel de ajudar os clubes, bem como investir recursos em centros onde o esporte é menos desenvolvido.
E os cartolas que não me venham com essa história de que faltam recursos. Somente nos 2 últimos anos, a CBF faturou mais de 400 milhões de reais somente com patrocínios: R$ 219,210 em 2011, R$ 235,572 em 2012. No balanço da entidade, correspondente ao ano de 2012, o superavit registrado chegou a mais de 55 milhões (R$ 55.599.415,74) e suas reservas financeiras atingiram mais de 102 milhões de reais (R$102.636.051,41).
As federações não deixaram de arrecadar uma parte significativa desse montante. Em 2011, Ricardo Teixeira repassou mais de 16 milhões de reais (R$ 16.755) as federações estaduais de futebol. Com a chegada de Marin (o famoso Zé das Medalhas) a presidência da entidade, o repasse passou para mais de 27 milhões (R$ 27.195), afinal, ano que vem é ano de eleição na CBF.
A Federação Paraibana recebeu mais de 1 milhão de reais de repasse da CBF. Suas receitas, de acordo com o último balanço, atingiram um total de quase 1,5 milhões de reais (R$ 1.441.095,25). A confederação tem muitos recursos, as federações passaram a receber mais dinheiro, no entanto, essas entidades não investem no futebol, apesar de viver do esporte. Mas deveriam, afinal, têm muito recursos, advindos tanto da iniciativa privada quanto dos órgãos públicos. Portanto, caberia a essas entidades investir no crescimento do futebol e dos clubes. Prefeito, não me venha com essa estória de que está investindo em uma paixão, em um projeto para a cidade, aplicar recursos públicos em entidades privadas não é tarefa do poder público.
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